O Perfume acompanha-nos na sua essência desde a primeira página em que o abrimos. As páginas entretecem em si o sabor maior da suprema evolução do homem. Os toques e os sinais que influem em nosso espírito atormentado diariamente pelo que os sentidos têm a oferecer encontram aqui, neste livro, a razão do seu espelho literário. A viagem a que nos entregamos é desconcertante e inegável, os ecos dos cheiros encontram a melodia e a textura correcta para se encarcerarem em letras e papel. O contar e o embalar de um tonto pleno de sentido, uma alma que se achega ao mais palpável e concreto a que a vida nos faz chegar. Uma viajem assim se faz em tons neutros de pastel, sombreados pelos doces sentidos, clareados pelo constante roçar de bem-querer, é-nos negado o respirar. Tal como Jean-Baptiste, há uma urgência em nós que nos comanda ao desfecho fatal desta obra. Somos impelidos, contraídos, vagueantes entre o desespero e a esperança, acossados pelas forças de uma vida contraída por expansão da sua compreensão do lá fora. Entre os mortos reina a paz, a fortuna dos nossos olhos, o reino do nosso olfacto, a posse do nosso toque. Lendo, apercebemo-nos da nossa ínfima solitude, da nossa alongada permanência sobre os demais, pontes vazias que somos entre os escombros de nós e o tédio que gostamos de matar lá fora.

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