Estou a ser incinerado vivo, comido pelos neutrinos que se abatem sobre mim neste dia de verão avassalador. As minhas pupilas rebentam pelas costuras, ficam em êxtase contínuo pelo iluminado mundo lá de fora. Afinal quem é que inventou tamanha intensidade luminosa? Será que Deus precisava de ver as coisas melhor e então criou o Sol com este tipo de incandescência ao rubro? Tanto Sol assim até atrapalha, ficamos vesgos de tanta luz, de tanta cor intensa e tanto brilho e ofusco. É demais. Demais, digo. Tanta luz assim não era vista nesta Terra desde o tempo em que o Farol da Alexandria iluminava os antigos nos seus percursos marítimos entre vagas e chagas. Tanta luz meu Deus! Tanta Luz! É tanta que até nos levanta o ego com tamanha arrogância de iluminação. Sentimo-nos irradiados, impressionados, vinculados a saber o que se passa mais. Sentimos o calor e desde logo esse calor transporta-nos para outro ideal, uma outra forma de ver as coisas, um outro raio de esperança. O Sol cria momentos e cria espaços de verdade, onde o Sol alcança assim alcançam as nossas forças, ele perscruta o horizonte sombrio e traz consigo um potencial de frescura ardente. Com tanto Sol assim, é impossível lamentarmo-nos. É impossível porque a impossibilidade existe numa réstia de sombra debaixo das rochas, sem rochas esse Sol seria total, seria máximo, destruiria tudo à sua passagem. Por isso existem sombras. Por isso existem rochas. Por isso aqui estou, aqui ao pé do Sol.

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