Visão Utópica da Distopia

Distopia! Milagrosas vertentes que assaltam o homem no seu sinuoso percurso que desencalhou de um penedo de saudade, poderosas distinções que são recebidas com aplausos de saudade de um tempo que findou no que não deveria ter sido, razões que passaram adiante de um plano de sangue e sofrimento, razões etéreas que colocam um patamar elevado acima das suspeições dos lugares comuns, razões que afrouxam a saudade e a fazem recompôr-se a caminho de um presente que se assegura mais que perfeito, perfeito pelas delongas, perfeito pelas demoras, perfeito pelas aulas e as aprendizagens do caminho. Arquitectura, Ciência, Arte, Sociedade, Sonho. Tudo inspira, tudo expira, tudo trespassa o seu querer infinito de paciência que nos trouxe aqui, ao centro do mundo, ao centro do céu que se transforma por artes mileanares de sabedoria na mais radiosas criações do homem, pontes e travessas rasam o nosso andar, adiante nas ruas os espíritos inquietos acalentam o seu fulgor, o seu espanto está atento às promessas e o seu infeliz semblante é respeito pelo chão que pisam.

Forte e inspirado, a palavra foi dita, o coração falou mais alto, a distopia assegurou o respeito que por nós nos merece, agora ela nos faz mais que humanos, ela nos executa o programa da transpersonalidade. As pessoas procuram na sua definição uma sombriedade que nunca tinha sido aflorada, a conjectura de uma sociedade não reflectida faz o nosso desejos acontecerem. Tece o nosso subtexto de ambiguidades de uma forma que ninguém estava à espera. Escreve-se no dicionário Distopia mas fala-se nas ruas em dialecto de vida.

Visão Distópica da Utopia

Utopia! Centro encantatório de uma manifestação de felicidade total, orgulho ancestral que parece nunca mais acontecer, findo dos tempos de um percurso meandrante de uma humanidade enganada, albergue nocturno daqueles que não conseguem viver. Utopia! Afinal o quê? Afinal para quê? Centro de expansão ou centro de inspiração halucinante? Real sentido de coragem ou pura tristeza encapsulada em esperança vã? Qual dos dois caminhos seguirá o homem na sua jornada em direção ao nenhures da plenitude!? Apex de uma nova forma de vida entregue aos deuses, essas são as razões de descoberta que não parecem conduzir a lado nenhum, vitórias e demoras alongadas em livros e escritos durante gerações rasgando o papel e a tinta em carruages de palavras alinhandas com os carris do infinito, risos e sentimentos cruzados em demanda de uma só voz que tenha a coragem relevante para um fim e uma causa, nobrezas pobres no seu primeiro canto que ecoam letras de inspiração que chegam aos ouvidos moucos de pessoas cansadas, pontos de encontro de mais um dia que chega e se faz acontecer em prol de um futuro que passa, que delonga-se em expectativas, que assume a construção de castelos no ar com fundações de querer.

Forma-se uma palavra e dai advem-se um sentido, larga-se assim perante o dicionário e perante as multidões exultantes mais um conjunto de sentimentos empacotado que fazem eco às inquitações humanas. Devolve-se ao espírito uma definição e com isso teima-se em querer acabar com o problema. Aqui está! Utopia! Está feito! Está declarado! Assim fica a nossa exultação para sempre gravada em pedra. Gerações irão aprender, gerações irão arfar pelo ar que respira esta palavra e irão encontrar refúgio na sua definição. Irão ler e irão assim suavizar suas dores. Irão ler e assim teimar em pensar que sentem.


Criações desenfreadas de uma razão posta a nú. Propostas. Reflexões. Carícias a uma ideia ainda por nascer. Volta e volta ao redor da invenção, da descoberta. A quem nós pertencemos ao criar uma ideia? Será que a ideia justifica-se por si só, e necessita de um hospedeiro para ser tornar? Poderá a ideia ser algo completo e empacotado pelo senhor das ideias mas que necessita de algo maior que si mesmo para envolver todo o seu poder em profunda simbíose intelectual? Como será a raíz de uma ideia? Sera branca? Verde? Como irá ela à raíz do problema, será uma ideia um objecto com raízes, e logo, como tal, um objecto com lastro e capacidade de se segurar contra ventos e marés contrárias provenientes da já esperada oposição pelos detentores da antítese? Em que podem os homens conhecer melhor as suas ideias? Se elas são completas e definidas, em que mero acaso, podem eles encontrar algo para além da sua ambição de dar sentido às coisas. Quererá a ideia jorrar para fora uma ideia que ela já de si teve? Será a ideia um conceito infinito e recursivo, onde elas poderão brincar ao jogo das caixas? Seremos todos uma caixa de ideias, com outras ideias lá dentro, que teve um dia a idea de ter uma caixa lá dentro com ideias, e cujas mesmas caixas contemplaram um dia pensar em ideias, e assim sucessivamente até ao infinito do um?

Com que nome iremos identificar tudo o que esperamos ser e comtemplar com as ideias do dia a dia? Em que diálogos poderemos nós esperar uma maior frontalidade se tudo o que dizemos não passa de ideia voláteis e cuja esperança média de vida é a de uns bons 3 segundos? Qual de nossas ideias deverá passar o crivo da criação? Qual das nossas ideias deverá ter a massa crítica de um bom senso apertado pelo tempo que não para neste século redopiante e avassalador. Quantos de nós não entregam as suas ideias a outros a troca da moeda comum, esperando assim ganhar um lucro fácil? Quantos de nós não passam por tontos, não elevando as ideias que têm ao seu máximo exponencial; qual é a nossa ideia afinal? Quem tem a coragem de sair da caixa e olhar com convicção o topo do cartão onde se encontra e dizer ao ventos: "Eu sou uma ideia!"?